Congada em Machado


A Congada em Machado

Em Machado as danças de congo surgiram nas fazendas, onde era permitido aos escravos dançar e cantar, nas datas em que se festejavam os santos do culto católico, revivendo assim os folguedos de seus antepassados.
Existem várias versões referentes às origens das Congadas de Machado.
Ceila Caproni e Marilda Signoretti em seu livro “A Festa de São Benedito em Machado/MG”, descrevem depoimento de Tia Anselma, preta velha machadense que se mudou para Taubaté: “Recordar o passado é muito bom mas é triste”. Segundo Tia Anselma, já falecida, os primeiros Ternos de Congado apareceram nas festas de São João, realizadas nas fazendas do município.
Estas festas religiosas desde a abolição da escravatura, compunham-se de baile, danças as mais variadas e quitandas. As danças eram com gingados, evoluções. Com o passar dos anos, as festas das fazendas passaram para a cidade.
As danças com aqueles gingados receberam o nome de Dança de Congada e Festa de Congada. Estas danças traziam características primitivas dos escravos africanos.
Murilo Carvalho, em comovente artigo, de seu livro “Artistas e Festas Populares” transcreve fábula ouvida do Rei Perpétuo Joaquim Santana sobre a origem do congado entre nós:
O Congo teve um princípio muito bonito aqui no Machado. No tempo do cativeiro tinha uns que gostavam de caçar de bodoque. Aconteceu que, caçando, acharam um nhambu que aparecia e sumia, aparecia e sumia. Eles foram indo atrás, aí deu num rochedo de pedra e o nhambu sumiu derradeiro e eles viram ali uma Santa preta, uma estátua, em cima da pedra, no lugar onde o nhambu sumiu. Aí, eles eram três companheiros, levaram a mão na Santa, mas ela não saiu do lugar, não puderam tirar. Foram embora pra casa, chamaram outros cativos e voltaram, uma porção de homens, rezando, rezando, em redor dela. Ainda não puderam tirar a Santa, ela não saiu do lugar. Voltaram pra casa e inventaram outro modo, que nem na África: um arranjou uma violinha, outro uma caixa, um pandeirinho, e todos vestiram uma saia colorida, que nem na África, e voltaram. Aí chegaram e tocaram e dançaram em redor da Santa Nossa Senhora do Rosário e cantaram: Vamo vamo, Nossa Senhora. Vamo vamo Nossa Senhora. E quando viu, a Santa deitou e eles puderam trazer. Puseram em riba de uma mesa e foram rezando, dançando, admirando ela, adorando de vela acesa. Eram todos gente africana, cantando enrolado numa língua velha que era a deles. Daí nós continuamos todo o sempre com o nosso canto e a nossa dança, para homenagear a Santa e ao São Benedito que ajudou Nossa Senhora criar Menino Jesus Argemiro e foi cozinheiro perto.”.
Conforme diz o historiador, juiz aposentado Ricardo Moreira Rebello, a verdade é que não se sabe ao certo, quando começaram os congados aqui. Segundo o Primeiro Livro do Tombo da Paróquia de Machado, encontra-se o registro da celebração de uma festa em louvor de São Benedito, no dia 13 de maio de 1914.
Homero Costa afirma que, já no começo do século passado eles eram bastante animados por ocasião da Festa do Rosário, e rivalizavam, na preferência popular, com os circos de cavalinhos.
Por volta das décadas de dez e vinte, os grupos de congo dançavam, sem regularidade, na Grama (atual Praça Rui Barbosa), em torno de um cruzeiro.
A Irmandade do Rosário chegou a construir uma capelinha ali. Pouco depois a festa foi transferida para a pracinha da Velha Caixa D’ água (hoje praça João de Almeida), junto à avenida Santa Cruz.
Em 1923, mudou-se para o ponto atual, trocando o nome de Festa do Rosário para Festa de São Benedito, santo que dá o nome à praça onde atualmente acontecem os festejos.
Antigamente, as congadas tinham como tradição as cores azul e branco. Hoje, outras cores foram introduzidas, caracterizando cada terno. Os ternos de congo utilizavam instrumentos rústicos: caixas, tambores, pandeiros e outros de pequeno porte. Hoje em dia, porém, foram acrescentados instrumentos de sopro como trombone, trompete, clarineta e saxofone. Conta-se que por volta de 1961 foram introduzidos o bandolim e o violino.
Atualmente, pode-se observar a presença, inclusive de alguns instrumentos de escola de samba inseridos na congada como caixa, tambores de alumínio e apitos, até no ritmo agressivo e “barulhento” como atestam muitos da velha guarda da congada, em substituição ao ritmo cadenciado e à harmonia que outrora era a marca registrada das congadas.
Além disso, a cada ano as congadas se descaracterizam, alguns de seus integrantes esqueceram os gestos rituais, não sabem “tirar as modas” antigas, pouco cantam e quase não se distinguem os toques de umas das outras, conforme constata Carlos Rodrigues Brandão em “A cultura na Rua”, páginas 184/185:
“De alguma maneira como na talvez distância entre os ritos do Candomblé e os da Umbanda, existem festas onde as equipes guardam ainda um conhecimento suficiente de seus cantos e passos da marcha e dança. Mas os gestos finos da reciprocidade, da deferência e da devoção foram apagados. Essa poderia ser a diferença entre o que se vê ainda em Oliveira e o que se encontra em Machado, também em Minas Gerais, mais ao sul em direção a São Paulo”.
Pensa-se que se esquecem músicas e toques, mas são as formas do olhar e os gestos sutis da mão o que primeiro se perde da cultura. Sobram seus intervalos: sua falta, primeiro reconhecida, depois sequer lembrada. Em Machado, no dia único do Reinado, uma segunda-feira, os ternos descem em direção à igreja, de onde saem depois num longo e barulhento cortejo de iguais reis e rainhas, nobres e guerreiros dançantes.
Embora o contexto, os instrumentos e objetos cerimoniais sejam os mesmos, os gestos sutis que provocaram em Oliveira os intervalos das cerimônias de devoção, de reconhecimento e deferência, não existem mais. Cada terno apenas chega ao local do encontro. Alguns silenciam os instrumentos, enquanto outros – a maioria – seguem tocando ruidosamente, de tal sorte que o local se converte em uma pequena praça de batalha sonora.
Esquecidos os gestos sutis de sujeição ou reciprocidade entre outras pessoas ou entre grupos rituais, resta uma algazarra regida pelo senso da concorrência: ganha de todo aquele que conseguir impor seu som alto, seu ritmo de tambores, sem perder o compasso que inevitavelmente se mistura com o de muitos outros.
A delicadeza dos gestos é submetida pela violência dos toques que transformam as marchas e os cantos devotos ou guerreiros em verdadeiras batucadas. Não há um acréscimo de símbolos e situações cerimoniais, mas uma perda visível de algumas referências.
Essa perda refere-se a algumas sequências e gestos que as pessoas repetem com exagero e quase que desordenadamente. Dizem os mais velhos que: “malham os instrumentos”, concorrem entre eles e nem sequer cantam, pois com isso, corresponderia a perder a força do som na luta de uns contra os outros.
De certa maneira, houve uma perda por parte da geração mais jovem no que se refere à verdadeira essência solene dos rituais, transformando-os em uma espécie de competição que valoriza apenas o volume e a quantidade de instrumentos. Essa é a queixa dos mais velhos.
Mas os congadeiros mais velhos têm se preocupado em fazer um trabalho de resgate e uma das ações voltadas para ele foi a iniciativa do professor José Vitor da Silva, que em 2011 criou o “Terno de Demonstração”. Ele reúne dois ou três componentes de cada terno da Associação dos Congadeiros.
Congada Machadense

Primeiro terno de Congo


A história conta que o primeiro terno de congo de Machado surgiu nas beiras do ribeirão Jacutinga, num sítio que Padre Alexandre teria doado ao escravo de nome Tibúrcio, terras depois herdadas por seu filho João Carvalho de Macedo. No local, mais tarde foi morar Procópio de Tal que teria fundado o primeiro terno de congada. Desse terno, participaram João Carvalho e Chico Moreira.

Patrimônio de um povo


Patrimônio Cultural Imaterial do Povo de Machado, desde 2010, a Festa de São Benedito [que completa 98 anos de existência (documentada), em 2012] se transformou numa das maiores atrações folclóricas e religiosas do sul de Minas Gerais.
A Festa de São Benedito de Machado, hoje, é conhecida internacionalmente. A Revista Congadas, editada em 2004, serviu como uma das molas propulsoras do reconhecimento da importância das congadas e da fé deste povo para Machado, para o sul de Minas e para o Brasil.
A beleza das congadas, o colorido das fardas, a dança dos congadeiros e as cantigas emocionam os turistas que acompanham, de forma mais próxima, os cortejos e os folguedos populares em torno da festa.
Em 2005, o bispo Dom José Setele, de Moçambique (país da África) esteve em Machado, acompanhando as solenidades em torno da celebração de São Benedito, o santo negro.

FONTE: Folha Machadense


Um Pouco do Passado..

Cheguei em Machado no dia 10 de janeiro de 1965 e aos poucos fui tomando conhecimento da realidade paroquial e suas tradições. Meses depois defrontei-me com a obrigação de realizar a Festa de São Benedito .
Aproximando-se agosto, no qual costumeiramente, se realizava o evento procurei contato com os festeiros ainda designados pelo meu antecessor, Pe. Santo Marini.
Eram eles o Sr. Abílio Alves Campos e esposa, se Dona Marciana Aurora Campos. Já então, gravemente enfermo, o Sr. Abílio foi substituído por seus filhos João e José Alves Campos e seu genro, José Geraldo da Costa e Dona Ana Campos Costa.
A festa era pequena, já que a promoção economicamente importante era a de São Sebastião, realizada na Praça Antonio Carlos ,sempre no mês de abril.
Interei-me dos promenores da comemoração e logo percebi a necessidade de melhorá-la, não no espírito religioso, mas no folclórico e popular. Não havia,então, interesse maior das autoridades em relação á festa, nem entidade alguma que representasse o folclore das congadas. Os ternos eram apenas 11, com limitado número de integrantes em casa um e a festa se realizava na Praça de São Benedito, então de chão batido, sem calçamento.
Procuramos afervorar a novena sempre muito participada. A procissão final, demonstração de fé, tão do gosto do nosso povo, congregava verdadeira multidão. Não existia, digamos assim, uma "liturgia" para o reinado, ponto alto do folclore, sempre na segunda-feira após a procissão.
Começamos por enriquecer a indumentária da Corte, mandando fazer um manto real para o Rei Perpétuo e sua coroa. Também as rainhas e princesas bem como mantos e coroas para os festeiros. Foram Rei Perpétuo nesses últimos quarenta anos, os senhores MIGUEL DOMINGUES FLAUZINO, BALTAZAR MANOEL DOS SANTOS , JOAQUIM SANTANA, PAULINO, SANTANA, GERALDO PEREIRA DOMINGUES (JOSÉ DICO) e o atual, VITOR SANTANA.
E o final da "subida do reinado", ganhou esplendor com um novo visual, a porta da igreja, o rei, a corte, os festeiros e uma grande multidão se aglomeravam.
O coral paroquial entoava o hino oficial da cidade "Machado terra querida''. Palavras de agradecimento do pároco aos festeiros e colaboradores e a proclamação dos encarregados da festa para o ano vindouro.
E pretendia-se a transferência das coroas e dos mantos, para qual criamos uma fórmula como estes dizeres "Recebe está coroa pela qual és constituído festeiro dos tradicionais festejos de São Benedito e procura cumprir com dedicação a missão que te é confiada".
Cantava-se o "Parabéns a você" e os novos festeiros entravam na igreja para uma breve oração e no seu retorno eram cercados pelos presentes com manifestações de carinho e de apoio. Enquanto isso cantava-se o" São Benedito da fé confessor.
Logo mais chegamos a conclusão de que a igreja não tinha condição de servir eventos, profundamente comprometida que estava em todo o seu aspecto.
Nós a demolimos, construindo uma outra com aproveitamento de apenas parte dos alicerce. Uma planta foi elaborada pelo senhor Leonel Camargo, moderna, espaçosa, graciosa no seu frontispício.
Sempre voltados aos interesses dos congadeiros, fizemos uma planta para a construção de uma sede para eles, que seria o "clube para os congadeiros". Razões fortes nos desaconselharam da execução do projeto, que foi, posteriormente, encampado pelo então prefeito municipal Carlos Alberto Pereira Dias.
E nasceu a "Associação dos Congadeiros" para a qual não faltou o nosso apoio e que se tornou o órgão representativo das congadas machadenses.
Oxalá a Festa de São Benedito,única promoção popular da paróquia, possa unir a comunidade para a preservação dos valores religiosos e folclóricos desse evento e possa evento, fugindo dos acanhados limites físicos, econômicos e sociais atuais desdobrar-se numa promoção que projete Machado como a capital do folclore sul mineiro.
                                                                                             Con. Walter Maria Pulcinelli
                                                                                                                               
FONTE: Folha Machadense



Boi das Oliveiras

Foi trazido da Bahia, pelo Sr. Chico Mole e foi introduzido na Festa de São Benedito. Hoje o Sr. Jairo Fernando de Souza , 1º Capitão dos congados sai com o Boi das Oliveiras no 2º sábado da festa.

Mulinha

Coordenada pelo Capitão de Congadas Sr. Toulo Oscar. É apresentada no 2° sábado da festa, antes do Boi das Oliveiras.


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